DORES DE CABEÇA (CEFALÉIAS)

A dor de cabeça persegue o ser humano desde o início da humanidade e vários povos antigos cunharam diversas palavras para descrevê-la. Dor de cabeça em linguajar médico se diz cefaléia.

A palavra cefaléia vem do grego κεφαλαλγία que significa dor de cabeça contínua, também relacionada com a palavra kephalos que signfica cabeça.

cefaléia = κεφαλαλγία

Migrânea, que é um sinônimo para enxaqueca, também vem do grego antigo ηeμικρανίον (hêmikranion) que significa metade do crânio. Por isso, em inglês, enxaqueca se diz migraine.

enxaqueca = migraine

A palavra enxaqueca vem do árabe الشقيقة (shaqiq) que significa metade, metade da cabeça

enxaqueca = ﺍﻠﺷﻗﻴﻗﺔ

A civilização árabe foi por muitos séculos o centro do conhecimento humano, com grandes avanços na astronomia, matemática e medicina, dentre outros campos.

Um dos mais influentes médicos da antiguidade foi Avicena, nascido no ano 980. Ele escreveu cerca de 450 trabalhos, dos quais pelo menos 40 foram relacionados com a medicina. O seu trabalho mais importante foi a obra Cânone da Medicina que foi o texto padrão em muitas universidades européias durante toda Idade Média e além, pois mesmo em 1650, ainda era utilizado na Universidade Católica de Leuven (a maior e mais antiga universidade da Bélgica)

Gravura de Avicena (em árabe, Ibn Sina -أبو علي الحسين بن عبد الله بن سيا)

Leuven, ainda hoje a mais prestigiosa universidade da Bélgica, fundada em 1425. Com mais de 40 mil alunos, é uma das melhores da Europa.

A palavra árabe para enxaqueca sabiamente ressalta uma das características mais marcantes da enxaqueca, que é acometer apenas um lado da cabeça. Geralmente ela é pulsátil e pode durar cerca de 2 a 72 horas. Frequentemente associam-se sintomas de náuseas, vômitos e intolerância à luz (fotofobia) e ao barulho (fonofobia).

Em cerca de um terço dos casos a dor é precedida de sintomas variados, mais frequentemente sintomas visuais (borramento visual, perda transitória de parte da visão, pontos brilhantes,etc). Estes sintomas que “avisam” a vinda da enxaqueca é chamada de aura. Daí a classificação das enxaquecas em sem e com aura.

As chamadas enxaquecas com aura são consideradas mais perigosas, pois estão associadas com o dobro de chance da pessoa ter um derrame (AVC). Esta chance aumenta ainda mais se você for uma mulher jovem, usuária de anti-concepcional e fumante. O tratamento preventivo da enxaqueca (veja mais adiante) pode evitar estes derrames.

Acredita-se que a enxaqueca seja causada por fatores ambientais e genéticos (cerca de 2/3 dos casos estão relacionados com parentesco. Se você é enxaquecoso, existe uma grande chance disso ter sido herdado de sua mãe. Isso nos leva a outro aspecto da enxaqueca: ela é bem mais frequente nas mulheres do que nos homens. Quanto aos fatores ambientais, as crises de enxaqueca frequentemente são desencadeadas pela fome, alguns tipos de alimentos (como vinho tinto, queijos curados, chocolate, Aji-no-Moto), estresse, cansaço, estimulação luminosa (como faróis de carros, luzes piscantes) e noite mal dormida. Considerando-se a vida moderna nas cidades não é a toa que a enxaqueca seja tão comum. Tão comum que ela afeta cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo todo.

Este fatores ambientais e genéticos de alguma forma atuam sobre os vasos cerebrais, causando a enxaqueca.

O tratamento da enxaqueca se baseia em duas situações:

A primeira refere-se ao tratamento da crise de enxaqueca. Existem diversas medicações que podem ser usadas para o tratamento das crises. Uma delas é baseada no fungo ergot, daí o nome de ergotaminas (a ergotamina existe desde 1918). Existem medicações mais modernas, como o sumatriptano e a naratriptano também. Estas medicações podem ser contra-indicadas em pacientes com problemas cardíacos ou podem causar problemas se utilizados de forma errada. Muitas vezes é preciso que se associe uma medicação anti-inflamatória e uma medicação anti-vômito para que o tratamento da crise funcione.

A segunda situação é a da profilaxia. Em algumas pessoas a frequência das crises é muito elevada, causando perda da qualidade de vida, transtornos do humor e perda de produtividade. Algumas pessoas até são demitidas do trabalho por causa de faltas frequentes relacionadas com as crises.

Nestas pessoas é essencial o tratamento profilático. É preciso que a pessoa tome medicações diariamente para que se evite a crise. Agindo assim, uma pessoa que tenha 2 ou 3 crises por semana pode passar a ter 2-3 crises por ano apenas.

Existem várias medicações profiláticas: propranolol, metoprolol, anti-histamínicos, anti-depressivos, anti-convulsivantes…..dependendo de cada caso, uma ou outra medicação é utilizada.

É preciso também que o enxaquecoso durma bem, pratique esportes e evite determinados alimentos.

Tratamentos alternativos como a quiropraxia parecem ter apenas um efeito marginal.

A trepanação (abertura de um buraco no crânio) foi praticada pelo ser humano desde cerca de 7.000 anos antes de Cristo e foi utilizada até o século 17. Acreditava-se que o buraco permitia a saída de “espíritos malignos” que causavam doenças cerebrais. Por incrível que pareça, a análise dos crânios das pessoas que foram submetidas a este procedimento demonstrou que eles sobreviveram.

É importante que se faça o tratamento profilático, principalmente se você tem enxaqueca com aura. O uso abusivo de analgésicos por si só pode causar dor de cabeça e pode haver evolução para uma dor de cabeça diária, chamada enxaqueca crônica diária, de difícil tratamento.

A enxaqueca é uma importante causa de perda de qualidade de vida e de produtividade. Precioso tempo gasto em crises de enxaqueca poderiam ser usados para o lazer, o convívio com a família, o estudo e o trabalho.

A enxaqueca, longe de ser banal, deve ser investigada, pois pode mascarar um série de outras doenças (como tumores cerebrais).

A consulta médica também permite diferenciar uma enxaqueca de outros tipos de dor de cabeça (como a cefaléia em salvas, a neuralgia do trigêmeo), cujo tratamento pode ser completamente diferente.

Nota de Esclarecimento: Este texto é propriedade de Clínica Neurocirúrgica Osaka Ltda e é protegido pela Lei de Direitos Autorais no. 9.610. É proibida a reprodução sem autorização. Não são permitidas outras publicações ou uso comercial deste texto. O usuário não está autorizado a publicar qualquer parte deste texto em outro local, incluindo a internet. As imagens e vídeos utilizados visam facilitar a compreensão e não devem ser consideradas imagens fidedignas de eventos reais. As informações aqui contidas servem apenas para oferecer as informações principais ao paciente, não visam fazer qualquer tipo de diagnóstico e não substituem uma consulta com o seu médico. a linguagem foi adaptada para a compreensão pelo leigo.

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Dr. Flávio Miura e Dr Joel Teixeira são médicos formados e pós-graduados (mestrado, doutorado e pós-doutorado) pela Faculdade de Medicina da USP e possuem Residência Médica e Título de Especialista em Neurocirurgia pelo Hospital das Clínicas.

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